terça-feira, 13 de agosto de 2013

Lamento

A noite era sua chama, as garras da perdição.
Enroscavam-se os dedos longos e gélidos ao redor da garganta.

Ele estava acostumado a fugir, estava acostumado a guardar segredos,
estava acostumado a se afastar e a se fechar.
Ela fez e refez as perguntas, como eventualmente fazia.
Ele não podia responder...

Sentiu pelo cheiro a ameaça, tão próxima como se lhe tocasse a testa;
Uma agulha fina e prateada na noite.
A lua se erguia no céu.

Ele pediu e implorou "fique aqui, proteja-se";
Ela estava cansada, os segredos já pesavam demais.
O coração apertou-se dentro do peito, até quase não bater mais.

Como ele correu; Perdeu-se na noite.
Seguido mais de perto do que de costume.
Seus próprios demônios o tornaram cego e surdo para aquela noite.

Ela viu a tudo; A fera saía do homem a quem ela amava.
Seus olhos se perderam nos olhos amarelos da besta.
Um longo uivo na neblina gelada...

Ele pediu e implorou, mas ela não ouviu.
Ele chorou e lamentou; A fera estava morta, dentro do homem que morrera.
Sua amada morta nos braços.

sábado, 13 de julho de 2013

O herói morreu

Seu amor falhou;
Sua rosa murchou em cima da lápide;
Sua espada fracassou;
Não mais um herói vive aqui.

Casca vazia, vestida de carne;
Seu sofrimento tomou o céu pra si,
E cinza o mundo reina,
Sem lendas para agora contar.

Símbolos esquecidos, memórias partidas;
Negar-se a respirar...

Quando uma fábula chega ao fim
Sem a besta encontrar beleza,
Sem a maldição partir-se,
Sem a princesa resgatar...

Seu fim inesperado
Foi a demora
E o sacrifício final.
E acabou-se...

Era tarde demais.
Ela já estava morta.

Risos de malefício enchendo a masmorra;
Um grito, uma lágrima;
O golpe final não a traria de volta;
A vitória trouxe uma derrota mil vezes maior.

O herói morreu
Com o cadáver de sua amada nos braços...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Visita do Espectro

O Espectro surge na noite.
Olhos avérneos oscilam em meio às multidões.
Faz sentir sua presença
Em todo coração que teme a morte.

Devo eu atirar-me aos lobos?
Pode a minha vergonha ser sanada?
Eu juro, eu não estava na Mascarada!
Por favor, escuridão, não engula-me...

E o Espectro avança lentamente
Face de osso ou a Máscara da Morte Vermelha?
Uma sombra de um passado distante
Ou é apenas o meu medo?

Cantar-te-ei hinos de mil terras
Sobre vales dourados e as flores de meu jardim,
Mas agora é chegada a hora,
Vá, escuridão, engula a todos eles...

E o Espectro abandona a noite,
E viaja para outra ainda mais escura
Por entre os mares de almas perdidas
Por túmulos pelos quais ninguém chora

Não me tema assim
Quando a hora for chegada
Pois meus dentes só encerram
Sobre a culpa involuntária
E o rancor da alma humana
Recebe-me com um abraço
E deixa-te envolver por minhas asas

Vem, para a noite que te aguarda...
E para algo muito além;
Para toda a eternidade
E algo muito mais difícil de explicar...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Divagações quaisquer

Quero ser herói de um conto seu;
Sei que não precisarei agir corretamente o tempo todo,
Sou grato.
Sei que não vou mudar o mundo com um golpe...
Sei que não alcançarei o céu na medida em que as águias conseguem...

Se esta bandeira tremular, que seja por nós!
E vamos fugir juntos se assim for necessário.
Há guerras que não foram feitas para os justos.

Quero escrever uma história diferente;
Pelo menos sei que não nos pegarão vivos...
Estou a salvo.
Minhas rajadas são feitas de ódio e superação...
Meu uniforme é a personificação de algo maior!

Vivamos para ver outro dia.
Lutemos quando ficarmos entediados.
Escrevamos uma história interessante.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A face da besta

A raiva lhe modificou pouco a pouco, transformando carne
Num emaranhado de espinhos ósseos e escamas vermelhas
A boca já não serve mais para falar, apenas rosnados emergem
Do meio das presas escancaradas e gotejantes de veneno
A cada passo atinge o chão um casco poderoso, fazendo tremer
O mundo ao movimento do monstro que um dia foi homem
Cada partícula de seu ser foi tragada pelo mal e mutilada
Para então renascer no pesadelo que retornou da infância
A respiração faz plantas murcharem, o toque de suas garras
Queima ao arrancar a pele... Seus olhos são bolas de chamas
Trepidando e causando o assombro daqueles que não viverão muito mais...

Oh, sim, a raiva lhe modificou, mergulhou em óleo e o trouxe a tona
Frito, vivo, vingativo e ofegante...
Rasteja nas sombras da alma e salta sobre sua vítima aleatória
Que para ele tem o rosto de quem mais odeia...

É tão difícil expressar sentimentos destrutivos... 
É assim que eles nos consomem!
Com o tempo todos seremos como ele
Pois nós, também, odiamos... E amamos odiar...
E queremos destruir...

Basta um pequeno passo e você está perante a face da besta
Você se sente assustado? Eu me sinto em casa...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Caminhada de um gnomo

Caminhou na floresta, na direção escolhida
Pensou duas vezes pra não errar o caminho
Falou consigo mesmo sobre as coisas da vida
O gnomo no bosque de arbusto-azevinho

Galgou a beirada da rocha elevada
Deu um impulso assim, logo de início
Escalou a colina de pedra empilhada
E viu a beirada do precipício

Andou... Um... Dois... Três passos
Parou de vez, onde a pedra acabava
Se inclinou para poder olhar para baixo: 
Tudo cinza onde a bruma despencava

Num instante de decisão e comedimento
Chegou a cogitar a ida embora
E perguntou a sí mesmo naquele momento:
"Devo eu pular agora?"

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Pensamentos flutuantes

Quero deitar-me na areia do tempo
E ver a bela Lua de nefrite flutuar
Banhar-me em sua luz esverdeada
E adormecer sem mais nada pensar

Sonhar alto nos céus e depois cair
Em nuvens purpúreas acolchoadas
Relembrando o doce canto do dragão
E as lanternas de fogo-cristal penduradas

Retornaria aos campos da plenitude
Cobertos pelo tapete verdejante
Onde os caminhos não têm um fim
E passearia ao lado de um gigante

Buscaria paz onde quer que estivesse
E a celebraria com fogos de artifício
Olharia no fundo, dentro de mim
E veria ali nascer um feitiço

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Razão do alquimista corrompido

Noite após noite seguindo os rastros deixados pelas estrelas.
Mistérios nas velhas páginas e equações infindáveis para enfim saber:
Poderia a alma ser matéria? Posso eu dobrar a morte a meu bel prazer?
Umas gotas de sangue e um cântico sagrado vão me dar todas as respostas!

Quebram-se ovos para fazer a omelete, como as almas que eu sacrifico,
Serei redimido de meus crimes quando chegar a minha conclusão.
Uma obra prima está nascendo aqui, através das almas que eu sacrifico,
E eu rasgarei o meu nome na história, manchando-a para sempre!

Máquinas além da compreensão racional,
Seres que nascem dos restos que deixo...

Minha mente brilhante é assombrada por pesadelos e
Meu tempo se perde por entre corredores escuros.

Jamais voltei a ver a luz do dia, ou sentir a brisa da primavera como antes.
Mas quem precisa disso quando se tem o universo na palma da mão?
Já não estou vivendo nesse mundo, e na minha alma posso sentir...
Só falta um passo certeiro para chegar ao meu objetivo final!

Quebram-se ovos para fazer a omelete, como as almas que eu sacrifico,
Serei redimido de meus crimes quando chegar a minha conclusão.
Uma obra prima está nascendo aqui, através das almas que eu sacrifico,
E eu rasgarei o meu nome na história, manchando-a para sempre!

Mais velho e inquieto, com menos a perder e mais a ganhar,
Meu sangue envenado goteja pela minha garganta ao tossir.

Com asas de vidro vôo até alcançar o ápice da minha loucura,
Uma missão que não dá espaço para descanso ou comedimento.

No fim serei um ilustre governante do que no passado chamou-se magia,
Homúnculos perfeitos e construtos eficientes serão meus súditos.
O pó estelar abrirá as portas da eternidade, e serei eu a guiar o mundo
Para o próximo estágio do meu sonho doentio e insano, chamado EVOLUÇÃO.

Quebram-se ovos para fazer a omelete, como as almas que eu sacrifico,
Serei redimido de meus crimes quando chegar a minha conclusão.
Uma obra prima está nascendo aqui, através das almas que eu sacrifico,
E eu rasgarei o meu nome na história, manchando-a para sempre!

Minha obra vai recriar a história...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sair para caminhar

- Eu vou sair para caminhar.

- Por que vai caminhar?

- Para entrar em exaustão.

- Por que quer isso?

- Para sentir dor.

- Por que?

- Para que a dor me distraia.

- Por que precisa distrair-se?

- Porque quero me livrar dos pensamentos que me torturam.

- Por que?

- Para evitar que eu fique louco.

- Por que?

- Porque posso me virar contra os que estão a minha volta.

- Por que faria isso?

- Para destrui-los e extravasar o que sinto.

- Por que?

- Porque só assim eu evitaria machucar a mim mesmo.

- Por que se machucaria?

- Para sentir dor.

(...)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tokusatsu

Que tremor é esse? Oh, não! Olhe para o alto, mais um monstro!
OK, todos sabem o que fazer, né? A postos! Vamos ao robô gigante!

Tecnologia a serviço da justiça, e seremos os protetores da humanidade,
Nossos poderes vêm do outro lado do universo e nosso emblema é inegável.
Cante rápido para afastar o mal, e ataque mais uma vez com sua espada de luz;
Cuidado com a cauda! E os raios que essa coisa dispara de dentro da boca.

Uma formação diferente e nos re-erguemos, e disparamos então a arma final.
Uma explosão, e faremos de tudo pra não destruir mais prédios!
A vilania não descansará, mas até que é divertido estar no meio da ação.
Lá vem o maior de todos, o impacto será sentido por gerações.

A missão é uma só, e embora tudo pareça tão bobo, diga a verdade,
Nós até que somos bem marcantes, não acha?

TOKUSATSU!